FICAR MUITO TEMPO NO CELULAR PREJUDICA A VISÃO? BIOMÉDICA DÁ DICAS
Em média, o brasileiro passou 9 horas e 17 minutos conectado à internet no ano passado. É o que indica um relatório do Hootsuite e da We Are Social. Outro levantamento, feito pelo App Annie, aponta que quase metade dessas horas é dedicada ao smartphone: cerca de 4 horas e 8 minutos. Os resultados são noites mal dormidas, aumento de miopia e astigmatismo, e até perda de visão. A reboque disso vem a dúvida: ficar muito tempo no celular prejudica a visão?
A biomédica, química e pesquisadora Ludmila Caroline Silva Dutra, do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), conversou com o TechTudo sobre os efeitos do excesso de telas. Para um adulto que utiliza aparelhos eletrônicos diariamente por mais de 3 horas, ela indica pausas de 20 a 40 minutos entre uso. Já para crianças acima de dois anos, o ideal é passar apenas 1 hora por dia no celular. Bebês menores que isso não devem nem chegar perto.
Telas mais modernas causam menos estrago
Mesmo que não consiga fazer pausas adequadas, o sugerido pela biomédica é procurar celulares com boa qualidade de imagem. Hoje em dia os painéis AMOLED, Super AMOLED e OLED dão maior suavidade aos pixels e, como efeito, descansam mais os olhos. Para Ludmila, o tipo de tela pode ajudar, contanto que exista disciplina do usuário.
Além disso, a pesquisadora indica a busca por smartphones de alta resolução – pelo menos Full HD+. Há no mercado opções interessantes de preço intermediário, como Galaxy A52, Redmi Note 10 e Moto G100. Todos os telefones de ponta já seguem este padrão, com destaque para iPhone 12 (OLED), da Apple; Mi 10 (AMOLED), da Xiaomi; Motorola Edge Plus (OLED), da Motorola; e Galaxy S20 FE (AMOLED Dinâmico 2X), da Samsung.
Luz azul violeta: a inimiga
A luz azul violeta emitida pelas telas de TVs, computadores, celulares e tablets é a principal inimiga da visão perfeita. Em um artigo científico, Ludmila verificou que a extensa utilização de smartphones – ou seja, a excessiva exposição do olho à luz azul violeta – pode estar correlacionada com miopia, dores de cabeça, visão turva e distúrbios de sono.
O estudo acompanhou cem universitários de 18 a 33 anos. Mais da metade utilizava aparelhos eletrônicos por mais de 8 horas diárias, o que confirmou a suspeita: quanto maior a exposição, maior a incidência de oftalmopatias ou doenças oculares.
A tela de Super AMOLED da Samsung apresenta cores vivas e alta definição, mas só isso não basta para melhorar a saúde dos olhos — Foto: Divulgação/Samsung
Dentre as mais comuns está o edema conjuntival, um inchaço do tecido que cobre a parte interna das pálpebras e que pode tornar mais difícil fechar os olhos devido à formação de bolhas. Além disso, encarar excessivamente a tela do celular causa desconforto, vermelhidão, enxaqueca, sensação de areia nos olhos e falta de lubrificação do globo ocular, conhecida como Síndrome dos Olhos Secos.
Muito tempo de tela também afeta a musculatura dos olhos, pois os músculos permanecem contraídos por longas horas, o que resulta na fadiga ocular e até mesmo no desfoque da visão ao tentar olhar para longe. Isso pode causar desvios como miopia e astigmatismo.
Filtro de luz azul ou noturno pode ajudar?
A luz azul emitida pelos celulares pode afetar a produção de melatonina, hormônio liberado à noite e responsável por regular o sono. Usar o telefone antes de dormir envia ao cérebro a mensagem de que ainda é dia, o que atrapalha a produção hormonal e, consequentemente, uma noite de sono mais tranquila.
O filtro para luz azul chegou ao mercado no iPhone 5S, em 2013, com a promessa de evitar problemas oftalmológicos, como degeneração macular e dores de cabeça. De acordo com Ludmila, o recurso se mostra benéfico na produção da melatonina, mas não há evidências clínicas que sustentem o benefício de bloqueadores de luz azul contra as lesões nos olhos. Recentemente, no entanto, um estudo de uma universidade americana concluiu que filtros assim são inúteis.
A biomédica explica que o ideal é evitar a longa exposição a telas de celulares e outros aparelhos eletrônicos. E, caso seja difícil ficar longe delas, o recomendado é sempre tirar alguns minutos para respirar, afinal, olhos também precisam de oxigênio.