PORTO ALEGRE: FL 2023 DEBATE A LIBERDADE, A INOVAÇÃO E O AGRO

O segundo e último dia do Fórum da Liberdade foi recheado de debates, com 20 painéis e palestras em mais de 12 horas de evento no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Além das conversas, que giraram em torno de temas como agronegócio, urbanismo, liberdade de expressão e muitos outros, houve lançamento de livros, sessões de autógrafos, apresentações culturais e, ao final, uma festa de encerramento.

A 36ª edição do Fórum da Liberdade teve como tema “Alice no País das Liberdades”, e quem esteve no local observou que o ambiente por si levava a uma submersão no mundo inspirado na obra de Lewis Carrol. A decoração do Centro de Eventos remetia a detalhes do livro, de personagens e até mesmo de mobiliário. Ao final, a proposta do Fórum foi cumprida com sucesso, e a questão da liberdade se destacou no centro dos debates.

Foram dois dias com mais de 25 horas de conversas e trocas de ideias. Cerca de 5 mil pessoas participaram, enchendo os espaços onde ocorreram os painéis e palestras. Quatro escolas levaram mais de 500 alunos para se inspirarem com as histórias de empreendedorismo e liberdade. É a preparação para o público futuro do Fórum da Liberdade, que se aproxima dos 40 anos de existência.

Agro: vilão ou bolo do crescimento brasileiro?

Um dos painéis mais importantes da sexta-feira foi sobre o agronegócio e reuniu Antônio Cabrera, ministro da Agricultura no governo Collor, a influenciadora digital Camila Telles e Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente na gestão Bolsonaro.

O passado do setor foi lembrado por Cabrera. Ele citou problemas que havia anteriormente no Brasil para os produtores, com importação de carne e até apropriação de produção pelo governo. Uma condição inimaginável na comparação com o cenário atual.

Camila salientou que se não fosse o cerrado, talvez o Brasil não tivesse passado de importador para exportador. Foi para lá que o agronegócio se expandiu e se tornou o grande sustentáculo econômico do país. Ainda assim, é questionado e apontado como vilão.

Para Camila, o agro precisa ser mais valorizado, e ouvir críticas feitas por “quem está em um escritório com ar-condicionado” não é algo fácil. “O problema do mundo não é o pum da vaca”, citou, em relação à poluição do ar por gases do rebanho. São acusações de “pessoas que querem arrumar o planeta mas não arrumam a própria cama”, diz. “Está na moda ser contra tudo sem entender nada”, acrescentou.

Camila falou de uma pesquisa sobre 60% das citações sobre agro em materiais escolares são negativas. A culpa, segundo ela, é da falta de capacidade do agro de “se vender”.

Joaquim Leite comentou sobre licenciamentos, classificando as leis ambientais do Brasil como as mais rígidas do mundo. “É um desafio para o Congresso garantir que pode produzir um novo projeto de lei sobre licencimento”, salientou, defendendo o licenciamento autodeclaratório para casos mais simples e regras mais duras para questões complexas.

Um olhar sobre as cidades

Do painel “Planejamento central ou ordem espontânea?” participaram o pesquisador e urbanista francês Alain Bertaud, o empresário, advogado, ativista político e publicitário alemão Titus Gebel e o economista Adriano Paranaiba.

Bertaud se debruçou sobre o papel do urbanista, que, para ele, é desenvolver as infraestruturas para as pessoas poderem se locomover, e isso deve ser feito dentro da ordem que emerge da acomodação espontânea dos habitantes das cidades. “Alguma regulamentação é indispensável, mas qualquer regulamentação do consumo, do espaço, de terra, previne o desenvolvimento da cidade. Não existem casas suficientes para as pessoas indispensáveis, que são as que estão trabalhando. Se a regulamentação não tiver utilidade, temos que removê-la”, afirmou.

Gebel mostrou ideias baseadas no preceito de que a governança é um serviço, e, por isso, pode ser realizada pelo setor privado. “O operador oferece serviços de governo e recebe uma taxa por isso”, exemplificou.

Paranaíba construiu uma ligação entre urbanismo e mobilidade urbana, cercada de muitas críticas ao panorama brasileiro. “O sistema de transportes no Brasil não funciona. Por quê? Porque esse sistema é resultado da forma como estruturamos a cidade. Se nós temos problema de trânsito em uma cidade, o planejador urbano falhou miseravelmente para pensar aquela cidade”, argumentou. Ele fez críticas ao excesso de regulamentação, que faz com que o pobre acabe indo para a favela porque o solo é muito caro para ele construir dentro das regras. Defendeu quadras pequenas para facilitar o transitar das pessoas, baseado em um livro da americana Jane Jacobs: “No Brasil, é estranho que muitos arquitetos gostam da Jane Jacobs, mas são extremamente planejadores do espaço urbano. Na Escola Austríaca, vemos as ideias da Jane Jacobs como muito libertárias”.

Você deveria dizer tudo o que acha?

Liberdade de expressão e o politicamente correto foram o tema do painel que reuniu o músico e apresentador João Nogueira (o Rasta), a jornalista e escritora Madeleine Lacsko e o cientista político Magno Karl.

Magno Karl iniciou o debate lembrando de Mamonas Assassinas, Renato Russo, Jô Soares e outros para mostrar como o discurso politicamente correto avançou para o cancelamento. “Nunca houve expressão sem consequências. A não responsabilização de alguém por um ato é a maior ofensa que pode ter para a República”, apontou. No entanto, hoje, o que vivenciamos, de acordo com ele, é que as pessoas ofendidas não precisam ter conhecimento sobre o caráter nem conviver no meio ambiente ou saber o que foi falado na suposta ofensa. “Criamos uma fábrica de pessoas cujas ideias estão na franja do debate público, mas com o poder de acabar com a vida alheia”, declarou.

“Eu bloqueio”, disse Madeleine, sobre as provocações e ofensas de que é alvo na internet. “Não sou obrigada a aguentar quem me ofende, mas não posso impedir ele de falar. Para ela, o que não é negociável é a dignidade humana. “A dignidade humana não depende do grupo em que a pessoa está. Você despe a pessoa da dignidade tirando nome, botando apelido de vilão de filme. Sem perdão, compaixão e redenção, não há sociedade humana”, criticou. Madeleine anunciou a ideia de criar um instituto para defender quem tem sua liberdade de expressão cerceada hoje no Brasil.

Rasta fez um apanhado histórico sobre o debate, a linguagem e o entendimento entre as pessoas. Ele defende que qualquer opinião, inclusive a mais estapafúrdia possível, não pode ser censurada. O grande guia deveria ser a consciência individual, entende. “Mas, ao mesmo tempo em que sou a favor de que você possa falar o que bem entender, também defendo que possa ser ignorado. A verdade importa e devemos ser absolutamente livres para dizermos o que pensamos”, concluiu.

Inovação

Um papo sobre inovação e tecnologia reuniu José Galló, ex-CEO e atual presidente do conselho da Renner, José Renato Hopf, cofundador da Getnet e da 4all e presidente do South Summit Brazil, e Cassio Bobsin, fundador e CEO da Zenvia e fundador do WOW Aceleradora.

Galló contou histórias de encantamento dos clientes com a Renner ao longo do tempo. O segredo do varejo, ele resumiu da seguinte forma: é seguir o que o cliente manda. Depois avançou para questões atuais de tecnologia e centrou comentários nos algoritmos da internet, exaltando sua utilidade mas também destacando os riscos do seu mau uso. “Todas as inovações são um pêndulo. Diziam que as lojas físicas iam acabar. Depois, que elas estavam voltando. O pêndulo às vezes está para cá e às vezes está para lá”, declarou.

Hopf destacou o avanço de Porto Alegre com o South Summit, que levou a rede hoteleira da cidade a lotar. Ficou claro que a cidade mudou e está mudando, o que traz otimismo para os empreendedores, como Bobsin, cuja fala envolveu os desafios e as benesses da área de startups. Foi um encerramento de painel de olho no futuro.

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